#16 quebrei uma promessa e veja no que deu
sobre promessas quebradas, pandemia, ansiedade, e eu sendo meio monotemática
Para ler sem urgências.
Quem diria que dar uma pausa de escrever tweets me proporcionaria inspiração para escrever newsletters?
Não é novidade para ninguém que eu estou fazendo meu trabalho final de graduação, afinal, reclamo disso todos os dias em todos os lugares. Em paralelo, como tweeteira em situação patológica que sou, estive acompanhando a repercussão das eleições nas redes sociais e passando muita raiva. Por isso resolvi fazer logout de tudo. Ou eu fico estressada por causa do Brasil, ou por causa da faculdade. Os dois não dá. Acontece que agora não tenho onde despejar minhas frustrações diárias, então resolvi reclamar por aqui mesmo.
Faltam menos de três meses para o fim do ano e eu mal posso acreditar no quanto tudo mudou desde janeiro. Com “tudo” quero dizer a maneira como lidamos com a pandemia. Fiz aniversário em fevereiro e só convidei três amigos para comemorar, porque tinha me recuperado de uma infecção por Covid-19 há pouco tempo e ainda estávamos no auge da onda da variante Ômicron. Agora, nove meses depois, a maioria dos locais que frequento sequer exige mais uso de máscara e distanciamento social. De fato, os números de contaminação caíram, muitos de nós estamos vacinados e a vida parece estar voltando ao eixo (com a defasagem de milhares de vidas que não tiveram a mesma “sorte” que nós de sobreviver). Só que as memórias e cicatrizes desse período nunca vão embora.
Lembro que em determinada época de 2020 prometi a mim mesma que nunca mais deixaria nada se sobrepôr aos meus momentos com as pessoas que eu amo e comigo mesma. Evidentemente, é preciso equilíbrio, afinal, existem responsabilidades, mas eu não queria mais permitir que minhas preocupações com trabalho e estudo fossem prioridade absoluta. Naquele momento, isolada do mundo, estava bem claro que o tempo mais importante que a gente tem é consigo e construindo boas relações. Sentia falta demais de viver, assim, viver de verdade. Por isso, eu decidi que não queria mais virar noites fazendo projeto, faltar eventos porque “precisava” estudar e nem comprometer meu descanso. Eu queria viver com plenitude e intensidade quando aquele pesadelo tivesse fim. Porém, 2020 acabou e com ele a minha lucidez k logo eu voltei aos velhos hábitos autodestrutivos.
Meu modus operandi é trabalhar incessantemente porque eu sou ansiosa e acho que nunca nada vai dar tempo, nada vai dar certo. Tenho um apego especial com meus pensamentos catastróficos. Então, deixo em segundo plano todas as minhas necessidades básicas enquanto ser humano para emular uma produtividade impossível, e ainda fico frustrada porque não atinjo a “performance” esperada. Não cuido de mim, não encaro bem meus “fracasso”. De certa forma, tenho consciência do que está errado (está bem claro, até antes do baque em 2020), só estou muito apegada a um estilo de vida que, se eu continuar cultivando, nunca vai me permitir receber alta do psiquiatra.
O final dessa história é sempre um breaking down. Até lá, eu fico me sentindo anestesiada, ignorando os alertas do meu corpo, exatamente como está acontecendo agora. Eu posso dizer que estou bem. Só não consigo ter uma boa noite de sono, sinto toda a alegria deixando meu corpo vez ou outra e minha mente está sempre inquieta. Mas eu estou bem. Já estive pior. Estou bem até o momento em que vou transbordar e aí vai ficar insuportável. Eu vou lamentar ter me deixado chegar nesse estado, perder completamente o eixo e vou prometer fazer tudo diferente dali para frente, para nunca mais ficar assim. Até fazer tudo de novo. Eu só espero conseguir enfim mudar essa narrativa cíclica, depois de sete anos de terapia, para uma história onde eu verdadeiramente faço escolhas melhores.
Queria tanto ser diferente em tanta coisa. Eu sei que o poder de mudar está em mim. Mas é exatamente esse o problema!!!!!!!!!!!
Portanto, eu confesso, amigos, que quando digo que não estou escrevendo newsletter porque não tenho tempo, é mentira. Não tenho é qualidade de vida, descanso, relaxamento. Não tenho cabeça, porque só uso minha mente para trabalhar e para consumir qualquer besteirol online que me permita conseguir dopamina rapidamente (alô tik tok). Não consigo encontrar espaço na agenda para escrever porque o tempo que não estou dedicando ao estágio, ao TCC ou aos trabalhos extras eu gasto estando simplesmente ansiosa. E, olha, quando eu finalmente paro pra escrever, é sobre isso que quero falar. Patética?
Eu sei que a última newsletter que escrevi foi sobre o mesmo tema, mas eu precisava desabafar mais um pouquinho. É também uma forma de firmar compromisso comigo mesma de que vou fazer diferente e me colocar em primeiro lugar. Ainda que os prazos da faculdade estejam gritando na minha mente (preciso entregar o TCC dia 30 de novembro). Ainda que às vezes eu sinta que sou totalmente ansiedade e nada mais. Ainda que tudo pareça o fim do mundo!! Vou cumprir a promessa que me fiz em 2020. Não sobrevivi a uma pandemia para acabar comigo mesma sozinha rs
Prolongando essa viagem interestelar:
Confesso que minha caixa de entrada do e-mail está lotada de newsletters não lidas, mas salvei dois textos que gostaria de compartilhar: “Onde está seu diabo agora” da Aline Valek e a série “um dia, um gato” que tenho gostado muito sobre a relação de um gatinho e sua dona, da Gaía Passarelli.
E se inscrevam na newsletter da minha amiga ceci!!!!! croissant e suquinho de maçã
Até a próxima aventura intergaláctica!
amei ler, ana!! que bonita sua reflexão :( consigo sentir #relatable em tantas coisas. parece que esse processo come um pouquinho da gente junto. que baque. eu acho que você não precise transbordar. torcendo para que o ciclo se encerre com esse sendo um final diferente <3 acho que até mesmo perceber, o horror do poder do fim de ciclo viver em si, é um fim de ciclo? até 1 de dezembro com mais descobertas