#23 cinco dias em essipê
sobre as aventuras de dois natalenses na maior metrópole brasileira e algumas recomendações de viagem
Para ler sem urgência.
Obs: ficou longo e tal então fiquei com preguiça de revisar. Se tiver algum erro, abrace e acolha o coitado.
Obs2: sem recomendações essa semana porque, de novo, ficou longo e tal.
Obs3: mas ficou divertido, ok?
Sei que é a terra da garoa, mas chove mesmo nessa tal São Paulo, né? E não é só garoa não. Passei cinco dias vivendo um remake do dilúvio, faltando apenas Noé com sua barca para nos resgatar, e voltei para casa para encontrar Natal também chuvosa (e tomada por facções criminosas, enfim). A diferença é que lá fazia uma mistura de friozinho com abafado nos dias nublado, aqui é só calor, morte e sofrimento mesmo.
Então, seguimores, fui a São Paulo assistir o show da minha banda preferida e queria compartilhar minhas aventuras/dicas sobre a cidade. Antes de viajar, pedi muitos conselhos do que visitar e onde comer, mas depois de um tempo eu mesma estava de saco cheio de ouvir tantos “você não pode deixar de ir”. Pesquisar esse tipo de coisa na internet também já não é tão fácil quanto antes, porque não existem mais blogueiras em seus mundinhos no blogspot que fazem diários de viagem (uma saída é ver o tiktok, mas fico meio impaciente) (talvez eu não seja gen z suficiente).
Vamos lá:
Primeiro dia: Galeria do Rock, Theatro Municipal e Jardim da Prefeitura
Fiz um roteiro de viagem considerando as próximas atrações nas regiões que queríamos visitar, para economizar tempo e passagem. No primeiro dia, eu e Luan mal dormimos, porque nosso voo era umas 4h05 da manhã (e ainda atrasou uma hora) e nós não queríamos perder um segundo de aproveitamento quando chegássemos. Então, pousamos em São Paulo, pegamos um ônibus gratuito do aeroporto para a estação, pagamos 4,40 cada (uma passagem adquirida no aplicativo TOP SP) e arrastamos nossas malas de trem e metrô de Guarulhos até Santa Cecília, onde nossos amigos nos hospedaram gentilmente. A mesma viagem por transporte de aplicativo custaria pelo menos 90 reais, usando transporte público nós chegamos no nosso destino em um tempo equivalente, com um pouco mais de perrengue, mas muito mais economia.
Depois de nos acomodarmos, fomos direto almoçar em algum restaurante simples e genérico por perto para não perder mais tempo. Seguimos em direção ao centro da cidade (debaixo de chuva, claro) e nossa primeira parada foi a Galeria do Rock. Não tem nada de espetacular, é apenas uma galeria comercial com um nicho bem específico: nerdolas, góticos, roqueiros, otakus e skatistas. Como eu e Luan somos nerdolas e ele é otaku, curtimos a visita e ficamos nos segurando para não gastar com nada.
Depois, partimos para o Theatro Municipal. Eu reservei uma visita guiada pelo site no dia anterior, e assim tivemos direito a conhecer as dependências do prédio com direito a uma aula que além de informativa, trazia muitos pontos de reflexão, e ainda assistimos a uma ensaio da próxima ópera que entrará em cartaz. Foi um passeio muito gostoso, o Theatro é realmente belíssimo, e eu adorei a preocupação do guia em sempre nos chamar a atenção para o fato de aquele espaço foi criado para uma elite, mas que era preciso democratizá-lo.
Por fim, aproveitamos a proximidade para conhecer o Edifício Matarazzo, onde funciona a Prefeitura, que nem estava no roteiro, mas nos cativou pelo jardim no alto. Foi um pouco menos interessante, confesso, mas ainda assim nos trouxe algumas reflexões sobre a história de São Paulo (e sobre um passado bem marcado pelo facismo) e o jardim na cobertura é realmente impressionante.
À noite, só pedimos pizza para os nossos anfitriões, colocamos o papo em dia e fomos dormir cedo para recuperar a noite de sono perdida.
Segundo dia: Museu da Língua Portuguesa, Jardim da Luz, Pina Contemporânea, Pinacoteca e Centro Cultural Banco do Brasil
Esse foi meu dia favorito de passeios. Começamos descendo pela Estação da Luz, que já é em si um espetáculo, e na estação mesmo fica o Museu da Língua Portuguesa. São três andares de museu e uma cobertura que não foi inaugurada ainda, então começamos pelo terceiro andar, onde há uma exposição super dinâmica e interativa sobre as origens e multiplicidades da nossa língua. No segundo andar, a exposição seguia com interações visuais, táteis e de áudio que nos faziam emergir no universo da linguagem, não só do português. Já o primeiro pavimento é dedicado para exposições temporárias, nesse caso, conhecemos uma exposição sobre memória e transformação de idiomas indígenas.
Depois dessa experiência maravilhosa no Museu da Língua Portuguesa, eu e Luan almoçamos em um restaurante coreano muito bom nas redondezas, Choyee (descobrimos por acaso que essa região tinha uma comunidade coreana). Eu nunca tinha experimentado essa culinária, mas adorei, era super gostoso. Deus abençoe as culturas que sabem usar temperos. Enfim. Passeamos pelo Jardim da Luz, que é um charme, apesar da chuva torrencial, conhecemos as poucas exposições que existem por enquanto no novo anexo da Pinacoteca, o Pina Contemporânea (arte contemporânea é uma viagem, hein?) e depois fomos para a famosíssima Pinacoteca. Bem famosa para mim, pelo menos, que estudei arquitetura.
O prédio é realmente uma obra interessante. Apesar de existirem algumas críticas à intervenção proposta por Paulo Mendes da Rocha, eu gosto dos tijolos aparentes e o contraste com a estrutura metálica. A Pinacoteca tem um acervo enorme de exposições fixas e temporárias. Não recordo agora se são três ou quatro andares, mas nós visitamos tudo, e não teve nada que eu não pensasse que era profundamente interessante. Encerramos o passeio extasiados pela arte tomando um café no subsolo. Deu muita inveja, sabe, ver a Pinacoteca de São Paulo tão bem cuidada, com um acervo riquíssimo. Alô, Rio Grande do Norte, precisamos olhar para a nossa.
Para finalizar o dia, fomos ao Centro Cultural Banco do Brasil (que é de graça, rs) onde visitamos uma exposição sobre Marc Chagall, artista que até então não conhecíamos. Passamos pelas suas obras, conhecemos sua história e, no final, havia uma atividade interativa de produzir um cartão postal inspirado na sua obra para enviar gratuitamente para qualquer lugar do país. Luan e eu nos divertimos muito nessa parte. No final, pegamos um transporte gratuito do CCBB (que nem sabíamos que existia) até a estação de metrô da República, o que nos livrou de chegar em casa mais encharcados.
À noite, fomos com alguns amigos jantar nas proximidades do Copan, em um restaurante chamado Orfeu. Nem esse nem o Choyee são lugares tão baratos, mas em termos de São Paulo, não são tão caros também, especialmente porque os pratos são bem servidos (uma qualidade que felizmente achei na maioria dos lugares).
Terceiro dia: Japan House, Itaú Cultural, Parque Tenente Siqueira Campos e MASP
Esse foi o dia da Avenida Paulista. Começamos pela Japan House, que não é grande coisa em si (tem um jardim interno cheiroso e a fachada é bonita), mas tem programações interessantes. Quando fomos, estava tendo um evento com universidades do Japão para ajudar e tirar dúvidas de pessoas que tenham o desejo de estudar por lá, além de palestras sobre mangás e kimonos. Não pudemos ficar muito devido ao tempo limitado, mas o pouco que assisti das palestras foi bem bacana.
O Itaú Cultural foi nossa próxima parada, minha favorita do dia. A exposição fixa é riquíssima, tem um acervo muito vasto de livros, memórias, quadros e outros documentos que contam a história do Brasil desde a colonização. É impressionante ver as ilustrações de Frans nos livros, porém mais impressionante ainda vê-las de perto. Também havia uma exposição temporária com 25 artistas e coletivos da atualidade, com variadas formas de expressão. Gostei muito, por exemplo, da parte da TRANSÄLIEN, onde nos vestimos com roupas brilhantes e entramos em uma sala escura com luzes e uma música bem vibes. Uma viagem bem gostosa. Ah, e tudo de graça, viu?
Almoçamos em um self-service por ali e partimos para o Parque Tenente Siqueira Campos, que fica em frente ao MASP e é um respiro impressionante no meio de uma avenida tão movimentada. Era bem fofo, embora cheio de aranhas assustadoras. Depois fomos para minha maior decepção da viagem, o famoso Museu de Arte de São Paulo. Eu já conhecia o museu, visitei quatro anos atrás, e tinha a memória de me encantar pelo lugar. Talvez o encanto tenha se perdido já na entrada, porque passamos uma hora na fila. Não sabíamos que comprar online era mais rápido, mas, ainda assim, achei muito desorganizado a maneira como eles estavam manejando a entrada. Depois de MUITO esperar, pagamos SESSENTA reais no ingresso (eu paguei trinta, no caso), muito mais que qualquer outro museu que visitamos. Sei que na terça-feira é de graça, mas voltaríamos para casa logo na segunda. O acervo fixo estava magnífico como sempre, a exposição temporária no andar de baixo não nos interessou muito, e o subsolo estava vazio, porque estava em montagem. E foi isso, sabe. Sessenta reais para uma experiência meio amarga. Além disso, minha querida Lina Bo Bardi que me perdoe, mas acho um saco isso de só ter o nome dos artistas atrás da obra, e não ao lado.
Enfim!!! À noite combinamos de passear com mais amigos natalenses. Pegamos o metrô e descemos perto da Rua Augusta, e enquanto caminhávamos pela Paulista presenciamos um inusitado protesto de ciclistas nus. Isso, peladões na chuva e no frio, com aquelas bundas desnudas sentadas em bicicletinhas laranjas do Itaú e desfilando seus pirus por aí. Não entendemos a demanda deles, mas espero que consigam ser atendidos. Seguimos nosso caminho para o calçadão urbanóide, um lugar cheio de carrinhos de comida, mas pela chuva e o horário, estava lotado demais para ficar. Terminamos em um bar ao lado chamado Baron, onde comi um ótimo sanduíche e uma caipirinha deliciosa com gin. Esse era o Baron Diversidade e ficava em um galpão. Ao lado tinha um outro Baron, que nós brincamos ser o homofóbico. Ambos tinham estúdios de tatuagem atrelados. Isso é um lance de São Paulo?
Quarto dia: feirinha da Liberdade e show do Paramore
Um caos. A Liberdade no dia de domingo é um caos. Eu infelizmente não consegui me sentir confortável nesse dia com todas as pessoas e ambulantes e carros na rua, além da preocupação com o horário do show. A parte mais sem graça foi o tal do jardim oriental, lotado demais para apreciar os cinco metros quadrados de árvore. A melhor parte foi almoçar yakisoba no Wanri Oriental, um restaurante chinês delicioso e com ótimo custo-benefício. Pedimos um yakissoba grande e uma entrada completa e alimentamos quatro pessoas a ponto de todas ficarem cheias, e tudo custou, com sucos e um refrigerante, 160 reais. Depois, procuramos uma doceria, mas estavam todas muito cheias e não tínhamos tempo de esperar.
O show do Paramore foi uma experiência à parte. Sou muito fã da banda desde a adolescência, e fui com amigas e meu namorado que também são fissurados. Apesar da fila enorme, tudo estava bastante organizado, entramos e saímos pacificamente do complexo, lá dentro as barracas de comida eram bem organizadas, o espaço era amplo, ficamos não tão perto mas não tão distante do palco (consegui vê-los!!!!) e o mais importante: não choveu no dia 12! Os dias anteriores de apresentação foram marcados por polêmicas, mas o dia 12 foi só paz e alegria. Foi indescritivelmente maravilhoso, a energia do público e da banda era incrível. Eu e minhas amigas pareciamos crianças com faixas na cabeça. E eu ainda cantei The Only Exception inteira olhando nos olhos do amor da minha vida, sabe? Foi bom demais.
Quinto dia: Liberdade e Ibirapuera
Um dia meio caótico porque estávamos cansados e o voo partia às 21h35, logo precisávamos chegar no máximo umas 20h00 ao aeroporto. Começamos tomando café em uma padaria para variar (estava mais para bruch, na verdade) lá em Santa Cecília, a Fabrique. Não achei caro, viu? Apesar da (novamente) fila de espera e carinha de que um café custaria um rim, paguei 12 reais num mocha bem grande, o que é mais em conta que muitas cafeterias aqui em Natal. Seria bem caro comer fora todos os dias, mas foi gostosinho tomar um café da manhã direfenciado.
Decidimos retornar à Liberdade para ir em algumas lojas que não tínhamos conseguido ir no dia anterior, como a Cápsula, onde tirei a maioria das fotos do dia, mercadinhos de comida asiática e papelaria. Almoçamos de novo no mesmo restaurante, porque minha outra recomendação (Aska Lamen) não abria nas segundas-feiras. Aliás, muita coisa não abre na segunda-feira, então nem tínhamos tantas opções do que fazer. De lá, resolvemos fazer nosso último passeio no Ibirapuera, mesmo que as atrações estivessem fechadas, para ao menos dar um passeio de bicicleta curtindo o parque. Foi uma delícia, apesar do temporal que enfrentamos.
De volta para casa, saímos com as malas para o metrô a caminho do aeroporto ainda sob chuva, pegamos metrô e trem lotados no horário de pico e levamos cerca de 1h40 para chegar em Guarulhos com muito sufoco. Não se engane, de carro o trânsito também não era fácil. Depois de todo o perrengue, ainda fui sorteada para uma revista na hora do embarque, o que me fez sentir em um episódio de Aeroporto - Área Restrita. Enfim os refrescos chegaram: descobrimos que o cartão black de Luan dá direito a fast pass na fila do embarque e dois convites para sala vip por ano (o meu e o dele), então ficamos das 19h até as 21h sentados em uma sala bastante confortável, com comida e bebida à vontade, banheiro limpo e tranquilidade depois de todo o caos.
O foda de fingir de rico por alguns dias é que a realidade bate depois, né?
Meus passeios favoritos
Se alguém me perguntasse que locais eu acho imperdíveis, diria a visita guiada no Theatro Municipal, o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca.
Não indico de forma alguma
Viajar pela gol (sério, que avião desconfortável), pegar metrô ou PRINCIPALMENTE trem em horário de pico e dar moral para desconhecido na rua.
Por que não foi no canto x ou lugar y?
Porque não deu tempo ou eu não quis. Eu hein.
Quanto gastamos por lá?
Falarei por mim porque não perguntei a Luan se ele me permitia expor os gastos dele rs, mas são valores parecidos, exceto que ainda tenho carteira de estudante e ele não, portanto em alguns casos paguei meia entrada. A passagem aérea foi R$ 1006,05 ida e volta, a hospedagem foi gratuita porque fiquei na casa de amigos (uns fofos, obrigada pessoal!), gastei R$ 66,00 para me deslocar de metrô todos os dias e R$ 46,22 em situações que precisei de uber, minha alimentação foi R$ 462,62 (buscamos equilibrar lugares bons que não fossem tão caros) e também compramos no vale alimentação uns cem reais de comida para os dois no café da manhã, foram R$ 67,00 de entrada em museus (paguei meia em todos), R$ 290,00 no meu ingresso para o show e mais uns bocados em comprinhas rs.
Assim como a Hayley Williams, prometo não demorar muito para voltar a São Paulo. Houve uma campanha entre nossos amigos para eu e Luan nos mudarmos para lá (principalmente com promessas de trabalho para mim, o que mexe com meu coração), mas por enquanto seguiremos como bons provincianos do vilarejo Natal/RN. São Paulo é legal, mas tem gente demais. É muito louco pensar em sair de uma cidade de 800 mil habitantes para uma de 12 milhões. Um dia, quem sabe.
Até a próxima aventura intergaláctica!