#22 cinéfilos que me perdoem
resolvi assistir FILMES pela primeira vez na vida e veja no que deu
Para ler sem urgência.
Eu sempre sou a Glória Pires no Oscar: não sou capaz de opinar em nada, porque não cheguei a ver os filmes. Normalmente vejo o ganhador quando passa, mas só quando o hype é bem grande, como Moonlight e Parasita. Esse ano, em janeiro, resolvi assistir pelo menos os indicados à categoria principal, porém confesso que até março só tinha assistido Tudo em Todo Lugar ao Mesmo tempo. Na última semana, engatei em ver os demais filmes depois de ouvir o episódio do Podcast Wanda com a Isabela Boscov sobre a premiação, e trago aqui algumas das minhas considerações inspirada na lenda.
Observação: após toda a empolgação descobri que vou estar em um show na hora da premiação (devo ser mesmo uma palhaça). Como eu gosto muito de assistir, mesmo não sendo #cinefila, vou ver a gravação depois e torcer para que meus favoritos levem as estatuetas.
Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo
“É um filmaço! Com certeza, já tá na minha lista dos melhores desse ano”
Causou muita polêmica no twitter nos últimos tempos (risos) e é um dos favoritos ao Oscar. Diria que a sinopse é: uma mulher fracassada que não tem uma relação boa com a filha, nem com o marido, nem com o pai, nem consigo mesma! e de repente se vê em uma aventura pelo multiverso para consertar tudo isso. É sobre problemas com os pais e expectativas, acima de tudo, e é uma loucura. Até uma certa parte do filme eu não tinha decidido direito se aquilo fazia sentido, só sabia que estava gostando e tudo foi amarrado no final. Eu ri bastante (junto com todo o cinema) porque é inusitado e irreverente, mas me surpreendeu mesmo que a história tenha ME feito chorar poucas cenas depois - eu tomo escitalopram, não é uma tarefa muito fácil me fazer chorar.
É um dos meus favoritos e eu com certeza assistiria de novo. Gosto muito da abordagem sobre povos imigrantes, da linguagem dinâmica, das roupas usadas pela Joy no multiverso, da discussão sobre a relação entre LGBTs e suas famílias, e das piadas absurdas. O que eu não gosto, eu acho, e agora vem um spoiler caso você não tenha assistido, é da magia do amor e gentileza como solução para os problemas, uma fórmula bem comum no cinema e que me deixa irritada, mas essa é uma questão pessoal.
Os Banshees de Inisherin
“Eu achei tão bobo, achei tão sem graça”
É um filme que se passa em uma cidade muito pequena em uma ilha no litoral da Irlanda durante a Guerra Civil nos anos 1920, sobre um velho meio maluco que decide não ser mais amigo de um chato e desde então é importunado por ele. Perguntei no twitter aos meus amigos se eles tinham gostado do filme, e adorei a resposta da querida @fernandasemog “eu tenho óido desse filme mas tiro meu chapéu pra ele que na sequência de vários nadas conseguiu me manter obcecada pela tela durante quase duas horas”.
Ódio eu não tenho, diria até que gostei do filme, mas NÃO acontece nada. É bem artístico, com metáforas da guerra, fotografia belíssima e diálogos que trazem reflexão. Penso que seria um forte candidato ao Oscar, que adora produções nesse modelo, mas há um fundo de comédia (que inclusive o faz ser classificado como uma comédia) que talvez o tire da disputa. De todo modo, o filme tem outras qualidades dignas da estatueta.
“Existem vários níveis de interpretação em Os Banshees de Inisherin, e conhecer o contexto da guerra civil pode ser um bom ponto de partida para entender alguns deles. “É uma história em que uma pequena guerra está acontecendo entre dois amigos, enquanto uma guerra maior está acontecendo lá fora”, declarou McDonagh” Super Abril.
Top Gun: Maverick
“Mas, do meu ponto de vista pessoal, é uma obra-prima”
Minha amiga me perguntou se eu vi o primeiro e eu respondi “tem primeiro??” para vocês verem como sou ligada em cinema. Cenas de ação me entediam, mas filmes do Tom Cruise costumam ser um bom entretenimento, então dei uma chance - apesar de esse ator ser um PIRADO na vida real.
Para quem também não viu o primeiro filme, está tudo bem, perdemos as referências, mas existem flashbacks que ajudam no entendimento. Em suma, Top Gun de 1986 conta a história de um piloto de caça rebelde (Pete Maverick) enviado a uma academia de elite de aviação (Top Gun), onde se envolve com uma mulher (Charlie) e é rival de um cara (Tom Iceman), o que resulta em um incidente que tira a vida do seu melhor amigo, Nick Goose.
Top Gun: Maverick se passa 30 anos após o primeiro filme. O protagonista é um piloto de caça ainda muito corajoso (o que o torna meio burro também, convenhamos), porém subjugado e vivendo o pesadelo da aposentadoria forçada - o que pra muitos de nós seriam um sonho. Ele tem a missão de ensinar um grupo de jovens pilotos a enfrentar um desafio bastante perigoso enquanto luta contra fantasmas do passado, e nessa você vai entendendo os motivos e desejos de cada personagem.
Eu adoreeeeei o filme, passei horas pesquisando informações complementares depois e resolvi que quero ver o primeiro. Não sei se leva o Oscar (alguém mais entendido de cinema pode dizer), mas definitivamente é um dos meus favoritos do ano.
Triângulo da Tristeza
“É de uma imbecilidade atroz”
Eu gastei uma hora da minha vida assistindo até não aguentar mais, e estou grata por não ter desperdiçado mais uma hora e meia. Que filme pavoroso. E as críticas que vi a posteriori não me deixam mentir. Ganhou 02 estrelas do Omelete por ser um “crítica social moderna sem muita originalidade e com escatologia de sobra”, é considerado “menos esperto do que acredita ser” em uma resenha no Jovem Nerd e até a Isabela Boscov acho caricato. Concordo com todos eles.
O filme se inicia com um casal de modelos discutindo questões de dinheiro e papéis de gênero no seu relacionamento, e depois nós os acompanhamos em uma viagem de iate luxuosa. A bordo, estão pessoas muito ricas e sem noção, e uma tripulação de gente também meio maluca que não vê a hora de o trabalho acabar para eles receberem as gorjetas. Mas em algum momento tudo dá errado, a embarcação naufraga e eles vão parar em uma suposta ilha deserta.
Quer saber o final? Não tem. É um filme que tenta ser tão inteligente que deixa um final aberto à interpretação, mas sem estímulo nenhum para o espectador. Descobri assistindo um resumo no YouTube, porque não aguentava mais assistir ao filme, e fiquei muito grata de não ter perdido mais tempo ao descobrir que a história não ficaria melhor. Desde o começo me incomoda, e não é um incômodo instigante, é só chato mesmo. A crítica social é tão válida que os personagens ricos são insuportáveis de assistir. Eu detestei, de verdade.
Os Fabelmans
“Inovador e revolucionário? Não, mas durante aquela meia hora cria ali para você um lugar tão aconchegante, tão reconfortante”
É um filme fofo, familiar, sem muitos conflitos e o mais fácil de assistir nessa lista. Inicia-se com um garoto sendo levado pela primeira vez pelos pais para assistir um filme no cinema, na década de 1950, experiência que o traumatiza tanto quanto o encanta. Na tentativa de conciliar esses sentimentos, o garoto, Sam, conta com a ajuda da mãe para começar a gravar seus próprios filmes, e acaba envolvendo sua família no que até então era um hobbie. Como é uma história autobiográfica do diretor Steven Spielberg, a gente já sabe que, no final, Sam vai se tornar um grande cineasta. Porém, The Fabelmans retrata sua vida até o início da idade adulta, abordando questões de conflitos familiares, crescimento, preconceito e, é claro, a paixão do protagonista pelo cinema.
É aconchegante, de certa forma, mas eu também daria aquela frase “eu achei tão bobo, achei tão sem graça” porque na verdade não me empolgou tanto. Talvez por ser uma autobiografia, eu sinto que Sam é mocinho demais, daquele jeito que a gente não se conecta tanto. O personagem que mais acolhi foi o pai, por motivos que não vou explicar, mas quem assistiu sabe que ele é um coitado. Anyway, The Fabelmans é legal, só não o mais legal, e acho que não vence a premiação.
Entre Mulheres
“Imediatamente, eu tenho crise de ansiedade”
Entre Mulheres se passa em uma dessas comunidade cristãs isoladas onde se vive alheio a qualquer modernidade. De início, achei que se tratava de final do século XIX, apesar de algumas incongruências, mas logo descobri que a história se passa em 2010. Nessa comunidade, as mulheres e meninas são constantemente vítimas de todo tipo de violência. Pelo que entendi, é comum que sejam dopadas e estupradas durante a noite. Depois, elas acordam feridas, traumatizadas, e muitas vezes gestam frutos desses crimes. Um dia, um desses homens é capturado e denuncia seus companheiros, mas todos os demais homens se unem para protegê-los. Então, as mulheres se reúnem para decidir o que fazer em um diálogo coletivo com posições bem distintas, no qual expõe suas vozes (quase nunca ouvidas), suas dores e conflitos religiosos. São 1h30 de diálogo forte e emocionante que envolve demais.
Foi acidental assistir a esse filme no dia 08 de março, mas a temática encaixou perfeitamente com a luta política que essa data representa. É impossível não se emocionar quando a história quando você é alguém que experiência o que é ser mulher nesta sociedade. “Imediatamente, eu tenho crise de ansiedade” porque é uma história fictícia, um tanto distante da minha realidade, mas que me atravessa em diversos pontos porque o que as personagens vivem no filme é terror que o patriarcado representa na vida de todas nós. Não somos livres, não estamos seguras.
Tár
Eu gostaria MUITO de ver esse filme, mas não consegui nenhum meio acessível de assistir, se é que me entendes. Fica para quando entrar em algum streaming.
Agora os filmes que eu nem quis ver.
Nada de Novo no Front
História no meio das trincheiras da guerra? Não me interessa.
Avatar 2
Não peguei o hype do primeiro filme, não me empolguei para o segundo. É como diz o meme: ala, nem vou ver.
Elvis
Não gosto do Elvis Presley, acho que ele foi uma pessoa desprezível e não veria uma cinebiografia dele. Nada mais a declarar.
Prolongando essa viagem interestelar
Ninguém pode dizer que não me empenhei na news essa semana, hein? E foi uma das que mais gostei de escrever. Semana que vem seguiremos a linha #resenha porque estou viajando para São Paulo HOJE e quero escrever sobre o que eu fizer por lá. Se eu não voltar logo, podem me arrastar de volta.
Até a próxima aventura intergaláctica!