Para ler sem urgência.
Sempre que abro o editor de textos para escrever uma nova newsletter, eu travo e é como se algo dentro de mim roubasse todas as ideias. Nenhuma inspiração tem funcionado, e as tentativas de trabalho árduo quase geralmente resultam em parágrafos sem vida que eu acabo descartando. Alguém desligou alguma coisa dentro de mim. Há muitas coisas amortecidas, para falar a verdade, essa é uma delas. Procuro os fios cortados ou o interuptor enquanto tento pela centésima vez rascunhar essa edição.
Mês passado foi meu aniversário de 24 anos. Sendo sincera, a sensação que tenho é de ainda estar entre os dezoito e dezenove anos, construindo caminhos sinuosos e sem saber ao certo o que fazer com meu destino. Há uns dez anos eu achava que já seria alguém bem resolvida nessa idade. Aos 14 anos parece bem mais fácil conseguir um emprego bom e conquistar independência financeira logo após terminar a faculdade. No momento, eu tenho um diploma, um bocado de sonhos ainda não alcançados e muito menos dinheiro na conta do que eu gostaria. Não sou totalmente arquiteta (porque ainda não obtive o registro profissional), não sou estudante (meu vínculo com a universidade acabou), não estou caçando galáxias e tampouco sou tenho sido escritora – a simples menção a escrever tem me causado ansiedade.
Alguém me desligou de mim.
De tempos em tempos eu gosto de visitar meus diários antigos como uma forma de me reconectar comigo mesma, pensar no quanto mudei e em quais eram minhas expectativas na época sobre o que estou vivendo hoje. Nesses diários, existem anotações de vários períodos entrelaçadas com comentários que fiz já um pouco mais velha sobre mudanças de plano e até debochando das ideias da minha versão anterior. A gente sempre acha que já foi mais bobo. Também existe um bocado de referências a livros e músicas que formavam minha personalidade na adolescência. Encontrei, inclusive, um pequeno conto de 2012 no qual eu e o Rupert Grint nos conhecíamos em um quase acidente e vivíamos uma paixão instantânea. Para quem nunca foi uma garota adolescente, saiba que era assim que nós expressávamos nossas paixões impossíveis.
Tem um diário em especial que sempre me cativa a atenção ao revisitá-lo. Coloquei o título de “turning my life upside down” no caderno e meu objetivo era relatar como a minha vida daria uma virada completa naquele ano, eu acreditava. Não preciso dizer que eu assistia filmes e séries americanas demais na época. Acho que era 2015 ou 2016 e eu queria mudar tudo sobre o que eu era e o que vivia, porque realmente me sentia frustrada, em especial comigo mesma. Claro que nada aconteceu dessa forma hollywoodiana, o que trouxe mudanças na verdade foi começar a terapia rs. Mas esse diário é marcante por escancarar o quanto eu almejava fugir de mim mesma quando era um pouco mais jovem.
“Um dia eu caí no conto de que eu mesma seria personagem de uma bela história de reviravolta de vida, superação e sei lá mais o que. Caí de cima da minha própria fantasia, da romantização da vida real e roteirização do cotidiano. Acreditei na figura criada pra mim. Descobri, logo no dia seguinte, que a vida real não sustenta a narrativa idealizada. Ela se impõe e, junto, o cotidiano medíocre e sem graça - na angústia entediada” Era pra ter luz.
Eu não quero mais fugir. Na verdade, eu acho que estou lutando para me encontrar. Há muitos eventos na minha mente que me fazem sentir desconectada de mim. A ansiedade é carrasca e cruel (e eu sou carrasca comigo). De todo modo, ainda que eu me sinta um tanto perdida, consigo enxergar bem melhor quem eu sou agora e gosto de pensar que a minha versão de anos atrás gostaria da que existe hoje, até faria as pazes consigo. Mesmo que não sendo exatamente quem ela esperava que eu fosse. Ela no mínimo gostaria de ver minhas tatuagens e de saber que não uso mais química no cabelo - e que ainda compartilhamos alguns gostos.
Espero conseguir achar os fios desligados em mim e me tornar alguém melhor no futuro. Eu sei que eu só tenho 24 anos e tenho todo o futuro pela frente, mas o senso de urgência do mundo em que No fim, é tudo culpa do capitalismo.
Prolongando essa viagem interestelar
“Tive alta do tratamento contra burnout. Estava recuperada, era o que dizia o relatório. Porém, na penúltima sessão de terapia, ouvi uma coisa que foi explicitamente omitida do parecer final. Você vai ter um burnout de novo em cerca de dois anos, não importa quantos tratamentos você faça. Escutar essa sentença da boca da profissional da saúde foi um divisor de águas. Se eu não estivesse pronta para ouvir, talvez fosse o fim. Mas foi libertador. Foi como se tivesse obtido passe livre para aceitar que a culpa realmente não era minha” Segredos em órbita.
Sobre um assunto bem em alta:
“só que o que acontece é que quem está desenvolvendo e programando o chatGPT dentre tantos outros casos de ia e machine learning não considera isso. são pessoas com uma ideologia específica (neoliberal) que montam suas máquinas para agirem de uma maneira específica, nivelando todos os dados em uma grande “opinião geral”” intern3t!!!11.
“eis que o redator foi condicionado a escrever como uma máquina e agora o chatGPT chega elogiadíssimo pela sua escrita toda natural e seu repertório incrível. mais um desaforo do capitalismo, não? perversa ironia, porque eu e você sabemos que o chatGPT não substitui humanos, porque a nossa criatividadezzzzzz… opa. e se (ventilando aqui) a gente já não for assim mais assim tão wow, criativos e autênticos, depois de anos robotizados, precarizados, medicados e viciados em timelines?” .flows magazine.
Até a próxima aventura intergaláctica!