#20 atualizações que ninguem pediu
o tema de hoje é: simplesmente eu contando o que rolou na minha primeira semana do ano porque me deu vontade de escrever sobr
Para ler sem urgências.
Leituras
Madame Xanadu de Aureliano Medeiros (não confundir com a personagem da DC Comics, embora esta seja a inspiração) foi um livro que deixei por algum tempo na estante por outras ocorrências da vida, mas sempre paquerava a capa quando colocava os olhos. A estética, a proposta queer, o fato de se passar na Ribeira (bairro que trabalhei no TCC) eram motivos para me atrair pela obra. Depois que foi anunciado que a história viraria filme pelo projeto Cine Natal, desenvolvi um interesse ainda mais forte. Assim, essa foi minha primeira leitura de 2023, dando início ao ano de uma forma brilhante (sinopse).
Comecei com um lápis ao lado marcando os trechos mais importantes, como gosto de fazer, mas acabei esquecendo das anotações a medida que me aprofundava mais na história. Eu sabia que se tratava de uma história triste, mas eu não imaginava o quanto. Os personagens tem faces sombrias e desejos mórbidos, e toda a narrativa é delineada pela melancolia sem fim de Madame Xanadu. No início, nada faz sentido. Mas é que a história começa pelo final. Enquanto se costura os motivos e razões de a Madame ter se tornado quem é, os retalhos e fragmentos das vidas de outras pessoas vão se unindo e formando uma série de acontecimentos paralelos, por vezes desconexos, que se unem em uma única linha no final.
Foi uma experiência muito gostosa ler uma história ambientada em lugares conhecidos. A velha Ribeira como símbolo de boemia, o Café Salão (muito importante na resistência das atividades e patrimônio do centro histórico de Natal), a televisão num canto do salão, a Rua da Saudade que termina em cemitério, os ipês-roxos que florescem e enchem a cidade de cor, a praia de Camurupim, a beleza da via costeira, o CEFET (IFRN), a UFRN <3 Lugares banais do meu cotidiano pelos quais tenho muito apreço e ganharam uma magia especial sob a luz da literatura. É como redescobrir minha própria cidade.
Já a segunda leitura de 2023 foi um erro que eu insisto em cometer. Eu sou uma mulher da prosa. Por algum motivo, eu a poesia sempre nos estranhamos. Alguns anos atrás comprei um livro do Leminski por ser famoso na internet e, contrariando uma série de intelectuais, não gostei. Recentemente adquiri uma coletânea de poemas do Carlos Drummond de Andrade entitulada “Corpo” que achei por um preço bem camarada em uma feirinha no shopping. Peguei para ler nos últimos dias: gostei de alguns textos, outros nem tanto, e novamente me vejo torcendo o nariz para a poesia. Talvez eu não seja profunda ou esperta o suficiente para entender (afinal, porque todo mundo gosta e eu não vejo graça?). Mas me recomendaram alguns outros autores contemporâneos (e eu até que gosto dos poemas que meus amigos escrevem), então talvez eu continue as tentativas em um futuro próximo.
Andando por aí
Além do passeio pelas páginas de Madame Xanadu, também explorei Natal de formas mais ativas na última semana. Meus pais aproveitaram o recesso de início de janeiro para turistar pela própria cidade, e eu aproveitei que não tenho ocupação no momento para acompanhá-los rs. Os locais escolhidos foram o Centro de Turismo, um antigo presídio onde hoje funciona um centro de artesanato e cultura, no bairro de petrópolis e com uma vista belíssima para o Rio Potengi; e a Redinha, simplesmente pelo interesse de conhecer o cais e comer ginga com tapioca, prato típico daqui. Ah, e também tomei muito sol em Ponta Negra, com a infeliz ideia de cada dia ir com um biquini diferente, o que me gerou marquinhas péssimas de bronze.
Alguns textos que me fizeram refletir muito e que provavelmete entrariam na sessão “prolongando essa viagem interestelar” se essa fosse uma edição normal
Um texto sobre retrospectiva do ano bem sincerão que aborda, entre outros pontos, o caos que é viver dentro do capitalismo e dentro de uma cabeça ansiosa. Esse trecho em específico me pegou demais:
“É tentador culpar meus pais, a ética protestante e o espírito do capitalismo, minha família profundamente estoica, as crianças que fizeram bullying comigo na infância e os caralhos, mas quem segura o chicote no final do dia ainda sou eu. E só eu que posso soltá-lo”.
Ano que vem, não vou emagrecer
Outro texto que me pegou de jeito na última semana, em especial nos fragmentos abaixo, foi este sobre metas e emagrecimento. Um dos meus desejos íntimos mais intensos desde a adolescência sempre foi ser magra. Acontece que eu sempre fui magra, principalmente até uns vinte anos, e esse desejo irracional só me acarretou problemas de saúde mental e compulsão. Hoje eu confesso que tenho vergonha desse pensamento, mesmo que seja completamente plausível pra muitas das pessoas que eu conheço que eu queira emagrecer. Tenho vergonha porque eu sei que eu estou sendo vítima e, ao mesmo tempo, retroalimentando a pressão estética e o capitalismo (falando assim como se não fossem a mesma coisa). É só que é difícil fugir desse tipo de comportamento tóxico quando ele parece estar por toda parte. Talvez eu tenha desenvolvido esses pensamentos autodestrutivos para me encaixar nas expectativas e me proteger do mundo (enquanto destruo a mim mesma). Tem sido difícil nadar contra a corrente, porém, sigamos na luta.
“Depois de gastar horas pensando em qual seria a atitude mais rebelde que eu poderia adotar ano que vem, cheguei à deprimente conclusão que “não desejar ser magra” era a resposta mais honesta de todas. Quase todos os desejos mudaram ao longo dos anos, mas desde a adolescência há essa única fantasia que nunca vai embora. O que ela tem de pequena, e quase insignificante, ela tem de permanente. Mesmo adormecido ali atrás de coisas muito mais importantes para mim, enquanto os outros desejos são conquistados e substituídos por vontades novas, sonhos novos, o desejo de ser magra fica ali como uma sombra. Sempre. Ele é a constante que nunca muda”.
“Mas entender que essa construção do ideal de magreza vai continuar existindo, não importa que eu queira rejeitá-lo. Acho que agora entendi meu dilema emocional dos últimos anos. No fundo, eu esperava que aceitar meu corpo como ele é fosse um processo apenas meu”.
Até a próxima aventura intergaláctica!
eu amo Natallll, coisa mais linda sua casa, já visitei duas vezes e pretendo ir mais!!!